Coridora Hastatus (Corydoras hastatus)
Coridora hastatus: A extraordinária piabinha de bigode
- Nome científico: Corydoras hastatus (Eigenmann e Eigenmann, 1888)
- Outros nomes: Coridora Anã, Tailspot Cory, Black Diamond Cory
- Família: Callichtydeae
- Distribuição: Brasil, da Amazônia ao Pantanal (Bacias do Rio Amazonas e Rio Paraguai), Bolívia e norte da Argentina
- Habitat: Riachos, pântanos e lagoas marginais, sempre próximo a vegetação aquática
- Cores: Corpo cinza e forma preta no pedúnculo
- Dimorfismo sexual: Fêmea maior e mais redondinha
- Tamanho adulto: 2 a 3 cm
- Reprodução: Depósito de ovos adesivos
- Hábitos alimentares: Onívoro (vermes, larvas, insetos, crustáceos e matéria vegetal)
No aquário:
- Manutenção: Média
- Comportamento: Pacífico
- Quantidade mínima: 6 (Quanto mais, melhor!)
- Espaço mínimo: 30 L
- Temperatura: 22 a 26 ºC
- PH: Ácido a alacalino (6.8 a 7.6)
- Convive bem com plantas: Sim
- Expectativa de Vida: Cerca de 5 anos
- Alimentação: Rações para peixes pequenos e específicas para peixes de fundo (tabletes) e quaisquer outras que afundem logo; aprecia larvas de mosquitos, bloodworms e filhotes de artêmia.
- Nível da água: Aquário todo
- Decoração: Troncos e muitas plantas. Substrato arenoso, de preferência.
- Cuidados especiais: Evitar aquários altos, excelente filtragem (mas suave)
- Compatibilidade com outros peixes: Boa (Nunca com peixes grandes!)
De todas as mais de 170 espécies de coridoras, talvez nenhuma desperte tanta paixão quanto a minúscula Coridora Hastatus. Também conhecida como “Coridora Anã”, ela tem apenas 2 cm de comprimento, enquanto uma gigante da família como a Coridora Splendens chega a atingir 8. Embora já coletada desde 1865 pelo grande ictiologista Louis Agassiz, a Hastatus passou longas décadas praticamente incógnita no aquarismo até ser redescoberta com a expansão do aquapaisagismo nos anos 90. Segundo o autor Herbert Axelrod, a procura pela Hastatus na Europa chegou a superar a de todas as outras coridoras somadas. Pode ser um exagero típico dele, mas isso já dá uma ideia do frisson em torno do peixinho.
Mas o que a Hastatus tem de tão especial? Para começar, uma aparência muito distinta de outras coridoras, praticamente sem pigmentos pelo corpo. Toda cinza e translúcida, com uma única forma pontiaguda preta no pedúnculo caudal que lhe confere o nome (Hastatus quer dizer “portador de uma lança” em latim). Além disso, ao contrário de suas parentes que passam a vida praticamente no fundo, a Hastatus gosta de nadar a meia água em grupos, em um exuberante nado sincronizado. Muitas vezes ela até se junta com espécies de tetras visualmente parecidos com ela, como o Tetra Elachys e o tetra paraguaio (Aphyocharax natteri), de modo que fica até difícil distinguir quem é tetra e quem é bagre (dica: repare quem tem bigode e quem não tem!). É um exemplo fascinante de convergência evolutiva e cooperação interespécies.
Apesar da sua ampla distribuição na natureza, cobrindo boa parte da Amazônia e Pantanal, a oferta desse peixinho ainda é muito desproporcional à demanda. Ele some por meses das lojas e, ao chegar, desaparece num piscar de olhos. Alguns aquaristas até ganham uma graninha iniciando uma pequena criação em casa e vendendo exemplares para outros entusiastas. Não parece tão difícil. O maior segredo estaria em colocar um cardume em um tanque separado e fazer uma grande troca parcial de água um dia antes de uma chuva forte ou chegada de uma frente fria (criadores de coridoras estão sempre atentos à previsão do tempo!). Com os ovos fecundados, 3 dias depois talvez já dê para ver alguns alevinos.
Os cuidados básicos com a Hastatus são os mesmos de outras coridoras, com a atenção adicional que deve ser devotada a um peixinho tão pequeno. Evite tanques altos superiores a 40 cm, porque de tempos em tempos ela precisa ir à superfície para uma golfada de ar extra. Dê a ela bastante espaço para nadar; não é porque é miudinha que vai gostar de passar a vida em uma beteira ridícula de 2 litros. E escolha muito bem seus companheiros de tanque, sabendo que qualquer peixe maior que 4 cm já representa uma ameaça em potencial. Passe longe da grande maioria dos barbos, ciclídeos e bagres. Nem mesmo coridoras comuns são muito recomendáveis, pois podem machucar as pequititas com movimentos bruscos. Entre as boas opções podemos destacar camarõezinhos Neocaridina, Apistogrammas, Otocinclus e outros peixes cardumeiros como tetras, rasboras e alguns dânios. Mas sua companhia favorita mesmo são outras Hastatus, sendo 6 a quantidade mínima (ps: como nós chegamos nesses números?!) e idealmente muito mais. Para compor o ambiente, inclua troncos e plantas de folhas largas como Anubias, sobre as quais ela gosta de descansar entre uma estripulia e outra.
A Hastatus é a mais famosa das 3 espécies de mini coridoras conhecidas. Além dela, há também a Pigmeu (Corydoras pygmaeus) e a Rio Salinas ou “Salt and Pepper” (Corydoras habrosus). Ambas muito interessantes, praticamente com o mesmo tamanho e também nadam a meia água, mas com colorações mais próximas ao feijão com arroz da família. Veja a diferença entre elas no quadro abaixo.
As Hastatus ficam extraordinariamente lindas em aquários plantados e estão entre as opções favoritas de muitos aquapaisagistas, principalmente em layouts abertos para simular uma revoada de andorinhas. Se você estiver num dia de sorte e se deparar com algumas na sua loja favorita, leve todas antes que elas passem voando.
Texto: Bruno Fortini
Foto de capa: Bruno Fortini
Referências:
O´LEARY, Rachel e DENARO, Mark. The 201 Best Freshwater Nano Species. The
Adventurous Aquarist Guide Series. TFH Publications: Neptune, 2014.
AXELROD, Herbert e SCHULTZ, Leonard.Handbook of Tropical Aquarium Fishes. TFH Publications, 1990.
ALBERT, James S. e SLEEN, Peter van der. Field Guide to the Fishes of Amazon,
Orinoco e Guianas. Princeton University: New Jersey, 2018.
Sites:
www.seriouslyfish.com
Texto extremamente rico em informações, obrigada!
Ao contrário das outras coridoras, a Coridora hastatus não possui hábitos noturnos. Seria essa uma adaptação da espécie, devido à localização geográfica?
Na verdade, a Hastatus possui hábitos noturnos sim. Ou pelo menos desenvolveu esses hábitos em aquário. Na natureza, a maioria das coridoras prefere habitar mais ambientes mais escuros e dorme sonos curtos várias vezes ao dia.
Gostaria de encontrar uma conexão com a sua localização geográfica (que é bem mais ampla que a maioria das espécies de coridoras), mas não consegui.
Otímo texto! Parabéns. Estou encontrando problemas com elas em relação ao seu comportamento no aquário. Passam o dia escondidas sem se mover praticamente por trás das plantas em um canto do aquário. Tem ideia do que pode ser?
Obrigado, Rafael. Acho que podem estar se sentindo inseguras. Estão em pequeno número? Também seria uma boa ideia acrescentar pequenos tetras para dar a elas uma confiança maior. Uma ótima seção seria adicionar Tetras Elachys, se você conseguir encontrar.