Comedor de Algas Siamês (Crossocheilus siamensis)

Comedor de Algas Siamês: O Cascudo 2.0

  • Nome científico: Crossocheilus siamensis  (Bleeker, 1860)
  • Outros nomes:  Siamese Flying fox; True Siamese Algae Eater; Zorro Volador (espanhol)
  • Família: Ciprinidae
  • Distribuição: Tailândia e Malásia (Bacia do Rio Mekong) e Bornéu
  • Habitat: Riachos e rios com cheias periódicas, geralmente em locais rasos com troncos e raízes
  • Cores: Listra preta longitudinal separando a barriga branca e o dorso cor de cobre
  • Dimorfismo sexual: Fêmeas são mais roliças; machos mais compridos e esguios
  • Tamanho adulto: 15 cm
  • Reprodução: Depósito de ovos nas superfícies (praticamente impossível no aquário caseiro)
  • Hábitos alimentares: Algas e fitoplâncton

      No aquário:

  • Dificuldade: Fácil
  • Comportamento: Pacífico
  • Quantidade mínima: 1 (melhor em pequenos grupos de 4 -6)
  • Espaço mínimo: 100 litros
  • Temperatura: 22 a 26 ºC
  • PH: 6 a 7.5
  • Convive bem com plantas: Sim
  • Expectativa de Vida: Até 12 anos
  • Pula do aquário: Sim (e muito!)
  • Alimentação: Vegetais (Spirulina, tabletes para peixes algueiros, alga nori, espinafre, pera, abobrinha e pepino) e também rações em flocos, bloodworms e artêmias.
  • Nível da água: Meio e fundo
  • Decoração: Troncos, raízes, plantas e pedregulhos, mas com amplo espaço livre para circulação.
  • Cuidados especiais: Tanque com boa circulação, alto nível de oxigênio dissolvido e totalmente livre de amônia
  • Compatibilidade com outros peixes: Excelente. Compatível com praticamente qualquer espécie, apenas evite outros comedores de algas e labeos (sharks).

Por muito tempo, o bom e velho Cascudo reinou absoluto como o faxineiro oficial do mundo do aquarismo. Mesmo que ele fosse melhor em fazer bagunça do que em propriamente limpar o tanque, ninguém parecia se incomodar. Todo aquário tinha que ter um cascudo para chamar de seu. Mas nos anos 90, um grupo de peixes vindo do extremo oriente começou a desafiar essa hegemonia. Ao contrário dos cascudos, eles não deixavam muita sujeira, faziam mais estragos às algas do que as plantas e em geral exibiam um comportamento bem menos fanfarrão. Eram os “comedores de algas”, parentes próximos das carpas, ativos e hidrodinâmicos. E eles vieram para ficar.

O melhor de todos é o Comedor de Algas Siamês (Crossocheilus siamensis). Cinzentão e com apenas duas barbelas discretas, ele não é tão bonito quanto o Flying Fox (Epalzeorhynchus kalopterus) nem tão encrenqueiro quanto o Comedor de Algas Chinês (Gyrinocheilus aymonieri), mas nenhum se compara a ele quanto o assunto é detonar as algas. Ele até ficou conhecido como “O Verdadeiro Comedor de Algas”. A sua especialidade são as algas filamentosas, mas ele também dá cabo das famigeradas algas petecas e até mesmo de planárias! É claro que se o tanque já estiver parecendo um pântano imundo, ele vai dar conta de resolver o problema sozinho, mas sem dúvida será um aliado e tanto no trabalho de manutenção.

Mas não se esqueça de alimentá-lo, pois ele não sobrevive só das algas que crescem no aquário. Ofereça também vegetais variados (Spirulina, tabletes para peixes algueiros, alga nori, espinafre, pera, abobrinha e pepino), além de rações em flocos, bloodworms e artêmias. Infelizmente, com o tempo, o Comedor de Algas vai perceber que raspar algas dá muito trabalho e que é mais fácil esperar a comida cair do céu (ou seja, das suas mãos). Mas aí já é tarde: inútil ou não, você já terá se afeiçoado ao seu mascote. Uma amizade destinada a perdurar por vários anos, podendo ultrapassar uma década.

O Comedor de Algas Siamês é um cidadão modelo e convive muito bem com praticamente qualquer peixe, exceto talvez por seus parentes próximos e outros “sharks”, como o Labeo frenatus e o Labeo bicolor. Ao contrário de outros comedores de algas, o Siamês também fica bem em grupos de 4 a 6, desde que o tanque seja grande e ele consiga preservar um certo espaço individual. Algumas rusgas serão inevitáveis, mas nada que arranque pedaço. Esqueça qualquer chance de reprodução em tanque caseiro. It’s not gonna happen.

Os cuidados necessários são muito simples. Basta um aquário grande, bem ambientado (um biótopo asiático é o ideal) e com amplo espaço livre para o Siamês nadar. Não se esqueça de pôr uma tampa, porque ele é muito impressionável e ao menor sustinho pode saltar como um foguete direto ao chão. É até sugestivo como ele sempre descansa em posição de decolagem, apoiado nas nadadeiras pélvicas. Também verifique que a filtragem seja muito eficiente com boa oxigenação e sem a menor sombra de amônia.

Enfim, se antigamente todo aquário precisava de um Cascudo, agora a regra é ter um Comedor de Algas Siamês. Pois é, a evolução não faz prisioneiros.

 

* Em memória de Tufinho (2006 - 2018)

Em 2006, eu tinha um aquário Boyu de 32 litros e resolvi colocar um Comedor de Algas Chinês. Não deu certo, pois ele semeou o caos e o terror entre os outros peixes. Voltei na loja e o  troquei por um Comedor de Algas Siamês, bem pequeninho e que nunca incomodou ninguém. Por uma razão inexplicável, dei a ele o nome de Tufinho (o gato bolinha do espevitado Geraldinho, personagem do saudoso cartunista Glauco). Pouco tempo depois, eu transferi o Tufinho para uma casa maior, um aquário de 160 litros. Ali ele ficou por mais de 10 anos, me dando muitas alegrias e alguns sustos – mesmo com tampa, não sei como ele foi parar 3 vezes no chão. Tufinho só comia ração, cresceu bastante e era muito amigo de um Botia Palhaço, o Bigodão. O Tufinho viveu 12 anos, alcançou mais de 15 cm e já era um peixe barba branca, com as escamas opacas pela idade.  Ele nunca fez o seu trabalho; não comia alga nenhuma. E mesmo assim foi o melhor amigo de escamas que eu já tive.

 

Texto: Bruno Fortini
Foto: Adriano Eduardo de Lima

 

Referências:

ALDERTON, David. Encyclopedia of Aquarium & Pondfish. Dorlink Kinderseley: Londres, 2008.

ALMEIDA, Maurício Xavier. SUZUKI, Rony. Aquapaisagismo – Introdução ao Aquário Plantado. Aquamazon: Londrina, 2008.

GAY, Jeremy. Choosing the Right Fish for your Aquarium. Hamlyn: Londres, 2006.

ROGERS, Geoff. FLETCHER, Nick. Guia Viual de Peces de Acuario de Agua Dulce. El Drac: Madri, 2004.

SANDFORD, Gina. Aquarium Owner´s Manual. Londres: Dorling Kindersley, 2005.

SANDFORD, Gina. MiniEncyclopedia - The Tropical Aquarium. Barron´s Educational Series: Nova Iorque, 2005.

WOOD, Kathleen. The 101 Best Tropical Fishes. The Adventurous Aquarist Guide Series. TFH Publications: Neptune, 2007.

 

Sites:

www.seriouslyfish.com

www.aquariumdomain.com

 

 

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  1. Flávia Costa Cruz Negrão de Lima 26/08/2018 at 1:18 am · · Responder

    Que linda a homenagem para o Tufinho, “melhor amigo de escamas que eu já tive”. Realmente me emocionou.

  2. Flávia Costa Cruz Negrão de Lima 01/09/2018 at 3:48 am · · Responder

    É verdade que o comedor de algas siamês não possue bexiga natatória, e, portanto, tem que estar em constante movimento a não ser que pousem numa folha, pedra ou tronco?

    • Perfeitamente certo, Flávia! Essa é uma pergunta retórica, não é? Rs Aliás, é por isso que eles até lembram uns tubarõezinhos – precisam ser hidrodinâmicos para não afundarem.

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