Rasbora Arlequim (Trigonostigma heteromorpha)

Rasbora Arlequim: A mais Rasbora das Rasboras

  • Nome científico: Trigonostigma heteromorpha (Duncker, 1904)
  • Outros nomes: Rasbora, Arlequim, Peixe Arlequim
  • Família: Cyprinidade
  • Distribuição: Singapura, Malásia, sudeste da Tailândia e ilha de Sumatra
  • Habitat: Riachos e pântanos encobertos por vegetação densa
  • Cores: Cobre com tons avermelhados e mancha preta no corpo
  • Dimorfismo sexual: Fêmea maior e arrendondada; macho pequeno e mais colorido
  • Tamanho adulto: 4 cm
  • Reprodução: Depósito de ovos
  • Hábitos alimentares: Micropredador (vermes, larvas, insetos e crustáceos)

      No aquário:

  • Manutenção: Média
  • Comportamento: Pacífico
  • Quantidade mínima: 6 (quanto mais, melhor)
  • Espaço mínimo: 60 L
  • Temperatura: 22 a 28 ºC
  • PH: Ácido a alcalino (6.5 a 7.5)
  • Convive bem com plantas: Sim
  • Expectativa de Vida: 5 a 8 anos
  • Alimentação: Rações em focos; dáfnias, artêmias e bloodworms secos ou vivos
  • Nível da água: Meio e topo
  • Decoração: Troncos e plantas; substrato escuro; folhas secas opcionais
  • Cuidados especiais: Tampa para evitar saltos, iluminação reduzida, circulação suave
  • Compatibilidade com outros peixes: Boa

“Rasbora” é uma palavra de origem obscura que por volta de 1930 passou a designar um gênero de pequenos ciprinídeos do sudeste asiático. Mas para qualquer aquarista veterano esse nome remete a um peixinho cor de cobre com uma mancha preta triangular e que forma cardumes tão sincronizados e espetaculares quanto os tetras da América do Sul. Estamos falando da Rasbora Arlequim, é claro, cujo esplendor a tornou a garota propaganda de toda a categoria.

Para um bichinho tão diminuto, a Rasbora tem uma história e tanto. Ela foi descoberta em 1904 pelo zoológo Albert Gunther enquanto ele visitava o jardim botânico de Cingapura e os riachos da região, de águas quase tão escuras e ácidas quanto as do Rio Negro na Amazônia. Ele ficou fascinado com o peixinho triangular e mais ainda ao perceber o quanto ele era comum na região, a ponto de ser usado até como recheio de panqueca e base de fertilizante! Mas logo alguém teve uma ideia melhor…. O sucesso nos aquários da Europa e EUA foi instantâneo, com direito até a capa do livro Exotic Aquarium Fishes de William T Innes, celebrada por muitos até hoje como a bíblia do aquarismo. Por volta de 1930, a exportação cresceu para quase 300 mil exemplares ao ano. Não deu outra: a espécie foi quase dizimada em seu ambiente natural. Felizmente o governo de Singapura percebeu o nível do desastre e passou a estimular a criação em fazendas, salvando a população selvagem a tempo. Até hoje o país é o principal polo de exportação da espécie e sua importância foi atestada em 1962 com um belo selo comemorativo. Puxa, valeu a pena quase ser extinta!

Os cuidados com as Rasboras no aquário são simples, mas envolvem algumas sutilezas que podem passar despercebidas pelos iniciantes. A primeira é tomar cuidado com a oscilação térmica no tanque, já que a despeito de sua adaptabilidade a parâmetros químicos, as Rasboras são verdadeiros ímãs para o famigerado íctio.

A segunda é não esquecer de colocar uma tampa no tanque. Rasboras se assustam com facilidade e podem saltar com qualquer ruído, principalmente nas horas frias da madrugada. Não vacile, pois infelizmente Rasboras secas no chão da sala são cenas mais comuns do que gostaríamos.

O terceiro lapso é recorrente, mesmo entre veteranos. Rasboras vêm de regiões sombreadas no interior das florestas tropicais, em meio a muitas plantas, troncos e raízes. Entretanto, é comum vê-las em aquários hiper iluminados por LEDS e layouts minimalistas estilo Iwagumi (formações de rocha com plantas baixas). Que o mestre Takashi Amano me perdoe, mas isso não vai fazer a Rasbora se sentir em casa. Ela certamente preferiria um ambiente mais escurinho, com galhos retorcidos, plantas típicas como a Criptocorina e Microsorum, além de um espaço aberto para natação. Você pode até colocar folhas secas para dar a água aquela cor de chá característica e plantas flutuantes para dispersar a entrada de luz.

A quarta e última dica é encontrar o ponto de equilíbrio entre uma boa oxigenação e uma filtragem suave. Rasboras não gostam de águas muito turbulentas, embora seja nítido que elas se divertem à beça nadando contra a corrente de um filtro auxiliar.

Em matéria de compatibilidade, a melhor companhia para uma Rasbora Arlequim são outras Rasboras Arlequim. O mínimo é seis, mas quanto mais você conseguir colocar sem superpovoar o aquário, melhor para a felicidade geral. Elas ficam muito bem com pequenos tetras, em particular com Neons e Borboletas (cada qual ocupando um nicho diferente: Neons o meio, as Rasboras o meio superior e as Borboletas o topo). Coridoras, Otocinclus, dânios, poecilídeos, botias, alguns barbos e pequenos anabantídeos também são boas opções. Uma coisa é certa: a Rasbora é uma cidadã modelo que não vai incomodar ninguém. Melhor se preocupar é com o comportamento dos outros, principalmente se eles forem grandalhões.

Comida também não é um problema, já que a pequerrucha tem um apetite de dar gosto. Tudo que couber na boca ela encara, então podemos nos ater às rações padrão e complementar com dáfnias e artêmias secas ou congeladas. Também adoram ganhar bloodworms, mas como eles são grandes demais para elas, dão a impressão que elas estão fumando um charutinho enquanto penam para engolir.

Há outras duas espécies bem próximas da Arlequim que vez por outra dão as caras nas lojas de aquarismo. Os cuidados são os mesmos e dá pra misturar todas num grande cardume feliz. Como são bem difíceis de reproduzir em aquários doméstico, o risco de hibridismo e produzir mutantes escalafobéticos é mínimo.

– Rasbora Hengeli (“Glowlight Rasbora”): Um pouco menor que a Arlequim, com um contorno laranja brilhante. É originária da ilha de Sumatra.

– Rasbora Espei (“Lambchop Rasbora” ou “Falsa Arlequim”): Também menor que a Arlequim, atinge um vermelho bem intenso quando bem aclimatada. É nativa da Tailândia e do Camboja.

Apesar dos cuidados já mencionados, não há barreira técnica nenhuma que impeça que neófitos sejam bem sucedidos com as Rasboras. A não ser talvez, a sazonal e a financeira. Por alguma estranha razão, as Rasboras podem sumir das lojas por anos e depois reaparecerem sem motivo aparente. E para peixinhos tão pequenos, o seu valor unitário ainda é relativamente alto – cerca de 60 reais, na época em que este artigo foi escrito (quem diria que antigamente ela era vendida por 3 míseros centavos de dólar!)

Quando você tiver a chance de obter esse tetra honorário dos confins do mundo, não hesite. Se algum dia alguém escrever um livro “Mil peixes para criar antes de morrer”, eu já tenho uma sugestão para a foto da capa.

Texto: Bruno Fortini
Foto: Adriano Lima

* Recentemente a Arlequim foi deslocada para o novo gênero “Trignostigma” (do latim, “pequeno triângulo”), muito embora no coração dos aquaristas ela permaneça como a Rasbora definitiva.

Selo de Singapura de 1962

Referências:

AXELROD, Herbert e SCHULTZ, Leonard. Handbook of Tropical Aquarium Fishes. TFH Publications, 1990.

GAY, Jeremy. Choosing the Right Fish for your Aquarium. Hamlyn: Londres, 2006.

GARY, Elson e LUCANUS, Oliver. The Barbs Aquarium. Barron’s Educational series: Nova Iorque, 2002.

O´LEARY, Rachel e DENARO, Mark. The 201 Best Freshwater Nano Species. The
Adventurous Aquarist Guide Series. TFH Publications: Neptune, 2014.

SANDFORD, Gina. Aquarium Owner´s Manual. Londres:  Dorling Kindersley, 2005.

WOOD, Kathleen. The 101 Tropical Fishes. The Adventurous Aquarist Guide Series. TFH Publications, 2007.

 

Sites:

www.tropicalfishmagazine.com

www.seriouslyfish.com

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