A Rusga dos 7 Mares: O ranking de biodiversidade dos oceanos

Os oceanos são apenas recortes arbitrários que se juntam em um único e vasto mar azul. Mas que tal nos imbuir de poesia na alma e imaginá-los como entidades míticas presas em uma eterna partida de Super Trunfo? Qual deles seria o mais salgado? O mais profundo? O mais perigoso? Coloquemos essas questões existenciais um pouco de lado para nos concentrar em uma rivalidade de amplo interesse para nós aquaristas: a biodiversidade estimada em cada oceano, com ênfase em peixes e corais.

Para maior efeito épico, nossas bases comparativas serão os proverbiais “7 mares”, que desde o século XIX consistem da seguinte formação: Ártico, Atlântico Norte, Atlântico Sul, Índico, Pacífico Norte, Pacífico Sul e Antártico. Embora todos exibam ecossistemas bem específicos e fascinantes à sua maneira, quem sabe não conseguimos estabelecer uma nítida hierarquia entre eles, indo do mais estéril até o mais piscoso? É óbvio que uma lista como essa está sujeita a fatores subjetivos que talvez comprometam maiores pretensões científicas. Mas pelas barbas de Netuno, o que você queria?! Este é uma matéria de um blog obscuro de aquarismo, não um artigo das páginas da Nature Magazine!

 

7- Antártico
Importância para o aquarismo: 0

De todos os oceanos, o Antártico tem a honra de ser o mais inóspito. Gélido, profundo e turbulento, assolado por icebergs titânicos e as maiores correntes marítimas do planeta, o Antártico está além das pretensões mais esdrúxulas de qualquer aquarista. Mas e daí? Fora os pinguins, provavelmente não há nada ali que você gostaria de levar para casa.

A ictiofauna é muito reduzida, com apenas 320 espécies identificadas. Além de minúsculas merluzas, só encontramos alguns parentes bizarros de blênios, lampreias e peixes escorpiões rastejando pela escuridão abissal. Na falta de tubarões, o posto de valentão local fica com o assim chamado bacalhau da Antártida (Dissostichus mawsoni), que com apenas 1,70m, é de longe o maior peixe dali. Fora isso, há alguns equinordemos, crustáceos, moluscos e esponjas. E só.

Reproduzir um bioma antártico em ambiente doméstico é técnica e economicamente inviável – até cientistas têm grande dificuldade para capturar e manter espécimes vivos para suas pesquisas. Imagine então o  gasto de energia com um chiller para manter a água oscilando de 10 até 2 graus negativos. Mesmo sem esses problemas, o aquário do Antártico fatalmente esbarraria numa barreira instransponível: o total desinteresse do público!

Bacalhau da Antártida (Dissostichus mawsoni) prestes a chutar uns traseiros. Foto por Robb Robbins.

 

6- Ártico
Importância para o aquarismo: 1

O menor e mais raso de todos os oceanos, o Ártico é um pouquinho mais hospitaleiro que o Antártico – o que não quer dizer muita coisa. Frequentemente açoitado por tempestades, swells (ondas gigantes formadas pela ação de ventos), gelo quebradiço e uma densa escuridão que perdura por vários meses, o Ártico é um dos últimos lugares indicados para alguém ir atrás de peixinhos.

As 240 espécies já identificadas incluem bacalhaus, linguados, enguias, salmões, cabrinhas, tubarões sonolentos e variantes de peixes escorpiões. Em sua maioria, peixes bentônicos (de fundo) que encontram ali temperaturas mais hospitaleiras do que na superfície. Muitos são provenientes de áreas próximas do Atlântico e do Pacífico que partiram para colonizar territórios no extremo norte.

Neste grupo, destacam-se os lumpfishes ou lumpsuckers, que quando pequenos são adoráveis bolotinhas de fofura dotadas de ventosas ventrais para evitar que sejam arrastadas pelas correntezas. Eles podem ser criados como pets, grudando alegremente nas mãos de seus donos. Mas quando se tornam almôndegas gigantes de 70 cm de comprimento, já é um pouco tarde para concluir que mantê-los em aquários domésticos talvez não seja a melhor ideia do mundo. Na verdade, o interesse maior da criação de cativeiro vem da indústria de pescados, porque as ovas são utilizadas para um caviar de preço bem mais em conta que o de esturjão.

Eu escolho você, Lumpsucker!!! Foto por Pablo Gordillo Chueca

 

O Atlântico

Agora vamos deixar o frio dos polos para trás e singrar rumo aos grandes oceanos de abrangência tropical. Começando por aquele em cujas margens se ergueu a civilização ocidental – o Atlântico. Sob as suas águas, dizem, esconde-se a lendária cidade perdida da Atlântida. Infelizmente, toda essa grandeza cultural não se traduz em biodiversidade marinha, que é relativamente sem sal (e olha que ele  é o mais salgado de todos!). Só para ilustrar, o Atlântico inteiro possui menos espécies catalogadas de peixes do que os rios da Amazônia.

Isso se deve a uma série de fatores:

1- Passado geológico: O Atlântico é o mais jovem dos oceanos, resultado direto da separação das placas da África e América concluída há 140 milhões de anos. A fissura resultante foi preenchida pela água do super oceano Panthalassa (um nome antigo do Pacífico) e muitas espécies migraram para a casa nova. Mas a mudança se revelou uma tremenda fria, pois o Atlântico foi atingido em cheio pela longa era glacial do Pleistoceno há cerca de 2,6 milhões de anos que exterminou boa parte das formas de vida. Com o degelo, a evolução seguiu seu rumo a partir de um número muito reduzido de espécies sobreviventes. Até hoje a água do Atlântico é mais fria que a dos outros oceanos tropicais.

2- Poucas ilhas: As ilhas costumam ser férteis incubadoras de novas espécies, devido às suas águas rasas e isolamento geográfico. E como o Atlântico  tem poucas ilhas, desperdiça seu potencial de biodiversidade ao longo de seu vasto território.

3- Poucos recifes de corais: Os recifes de corais são os epicentros da vida nos oceanos. Como as reservas de corais do Atlântico são geralmente pequenas e esparsas, oferecem pouco abrigo para as espécies locais prosperarem. Os peixes que ali vivem tiveram que se tornar mais durões, aprendendo a sobreviver em condições mais austeras que seus primos ricos de outras paragens.

4- Isolamento do Indo-Pacífico: O Atântico só possui contato com o Índico e o Pacífico nas águas frias do hemisfério sul, o que dificulta muito o intercâmbio de espécies tropicais.

5- Condições químicas: A convergência de correntes marítimas quentes nos trópicos reduz consideravelmente o nível de oxigênio dissolvido na água. Esse fator, combinado à alta salinidade do Atlântico (37,5 por mil de salinidade média), torna o seu ambiente tropical pouco hospitaleiro para o desenvolvimento do plâncton, que é a base da vida marinha.

Enfim, é muito azar para um oceano só!

 

5- Atlântico Sul
Importância para o aquarismo: 4

O Atlântico Sul pode ser bem sintetizado por uma expressão do biólogo Etson Bini: “muita água, pouco peixe”.

No caso do Brasil, isso é particularmente incômodo. Um país que é famoso por ecossistemas fluviais exuberantes tem que se contentar com um bioma marinho que é praticamente um “Caribe dos pobres”, com apenas a metade (470) das espécies encontradas mais ao norte. Os aquaristas tupiniquins se ressentem da falta de corais e da dificuldade de encontrar peixes coloridos adequados a tanques pequenos. As espécies tradicionais que são coletadas há muitos anos (Pomacanthus paru, Holacanthus tricolor, Bodianus pulchelus, Chaetodon striatus, etc) alternadamente ficam muito grandes, ou são agressivas, ou comem corais ou não se adaptam bem à vida em cativeiro. Na maioria das vezes, são apenas feias mesmo. E aquelas que parecem ideais (estou olhando para você, Gramma basiliensis!) são proibidas pelo Ibama!

Do outro lado do Atlântico, a situação é ainda pior. A costa leste da África é quase um deserto subaquático, com recifes inexpressivos e um apanhado genérico de espécies do Caribe e Mediterrâneo com uma ou outra variedade endêmica.

A favor do Atlântico Sul, deve-se reconhecer que é uma região muito menos estudada que as demais e vez por outra revela belas surpresas em águas profundas, como o pisicodélico Lioproproma carmabi, um dos peixes de aquário mais raros e cobiçados do mundo.

Thosanoides aphrodite, uma espécie de Anthias descoberta em 2018 no Brasil. Foto por Luiz Antonio Rocha

 

4- Atlântico Norte
Importância para o aquarismo: 7

No hemisfério norte, a maré já fica mais favorável ao Atlântico. Primeiro, há mais ilhas, o que significa mais santuários naturais. Mas isso se deve principalmente à sua jóia da coroa e principal berço de biodiversidade marinha ocidental – o Caribe. Trata-se de uma vasta região coralínea que engloba não apenas o Mar do Caribe, mas também o Golfo da México, a península da Flórida e as ilhas das Bermudas. A evolução aqui percorreu um caminho totalmente distinto desde o surgimento do istmo do Panamá há 2,8 milhões de anos, interrompendo a conexão tropical do Atlântico com o Pacífico. A paisagem subaquática se caracteriza por muitas gorgônias, corais chifres de alce e mais de 830 espécies de peixes, muitas delas exclusivas. Um fator de diferenciação em relação ao Atlântico Sul é um número muito maior de pequeninos góbios e blênios, que ficam isolados ao norte por não conseguirem transpor as águas furiosas e turvas da Bacia do Amazonas.

Olhando um pouco mais para cima à direita, temos o Mar Mediterrâneo, famoso pelas águas cristalinas e o charme das ilhas gregas. Embora um bioma temperado não tenha nem de longe os corais nem os peixes extravagantes dos Caribe (só um outro wrasse, góbio ou Anthias mais coloridinho dentre as 650 espécies locais), o Mediterrâneo exibe uma gama de invertebrados e macroalgas. Alguns aquaristas experientes têm se devotado a construir tanques temáticos da região, honrando os esforços dos primeiros aquaristas marinhos que também começaram por ali no século XIX.

O Peixe Sapo Esplêndido (Sanopus splendidus), só encontrado nas águas de Belize. Foto por Randall Mcneely

 

3- Índico
Importância para o aquarismo: 8

Contornando o sul da África pelo Cabo das Tormentas (cuidado com o Holandês Voador!), chegaremos ao Índico. É um oceano largo e atarracado, quase que inteiramente restrito ao hemisfério sul. Basta conferir o mapa e deduzir pelos territórios ao redor (África, Arábia, Índia, Tailândia, Austrália) que o Índico é quente. Aliás, quente não, escaldante! A água chega a atingir 36 graus em vários pontos. O calor induz a um baixo nível de oxigênio dissolvido, impedindo a formação de grandes cardumes em alto mar e contribuindo muito pouco (apenas 5%) para a pesca global.

Por outro lado, a alta concentração de fitoplâncton, as correntes marinhas e a grande alternância de biomas nas margens (imensos manguezais, colônias de sargaços e, é claro, recifes de coral) tornam a fauna costeira do Índico muito superior à do Atlântico. Aliás, há pouco de comum entre esses dois. Biologicamente, o Índico é bem mais próximo do Oceano Pacífico, de quem é praticamente um irmão mais novo e com quem compartilha a maioria das espécies. Não é raro, por exemplo, que o mesmo peixe seja encontrado de Madagascar até o Havaí – é o caso do peixe anjo imperador (Pomacanthus imperator), cujos domínios se estendem ao longe.

Embora o epicentro da sua biodiversidade seja justamente na região fronteiriça com o Pacífico, o Índico possui vários santuários da vida aquática ao longo de sua extensão, incluindo muitos arquipélagos (Seycheles, Maurício, Maldivas), a ilha gigante de Madagascar e a costa oeste da África que, ao contrário do litoral atlântico, é repleta de corais - mais de 300 espécies, na verdade. O exemplo negativo fica com o Mar da Arábia, pois ali o calor e a alta salinidade são tão críticos que formam quilômetros de áreas mortas.

Nenhum desses santuários, no entanto, se compara ao Mar Vermelho. Um fiapinho de água salgada cravado no deserto, o Mar Vermelho está eternizado como cenário de uma das passagens mais emblemáticas da Bíblia (crédito também ao ator Charlton Heston!). Mas ele também é celebrado como o local de mergulho favorito do saudoso oceanógrafo francês Jacques Costeau. E não à toa. O Mar Vermelho tem um colorido único, combinando colônias de corais duros com imensos cardumes de peixinhos vermelhos chamados Anthias (que alguns acreditam até explicar o nome do mar). As margens do Mar Vermelho são estreitas e decaem abruptamente em uma fenda profunda, formando paredões de coral (ridges) que os mergulhadores adoram. O endemismo local é bem alto e inclui algumas das espécies preferidas dos aquaristas (Pseudochromis fridmani, Acanthurus sohal e Chaetodon semilarvatus, dentre outras).

Voltando ao Oceano Índico, podemos encerrar afirmando que suas águas são pouco conhecidas, se comparadas ao Atlântico e Pacífico. A principal dificuldade é a falta de pessoal qualificado e a estrutura precária em suas margens, quase sempre em países muito pobres e não raro em zonas de guerra. Para piorar, o oeste da África e o Mar da Arábia são assolados por piratas e traficantes que não hesitam em cometer atrocidades; definitivamente não são locais recomendáveis para aquanerds indefesos.

Peixe borboleta mascarado (Chaetodon semilarvatus): Um dos maiores garotos propaganda do Mar Vermelho. Foto por Stephan Kerkhofs

 

O Pacífico

Se prosseguirmos ao longo da costa oeste do Índico e atravessarmos o estreito de Málaca, finalmente chegaremos aonde tudo começou: o Pacífico. Com 750 milhões de anos, ele é tão antigo quanto a própria vida e já existia antes da primeira trilobita sair do ovo. Isso o torna uma espécie de venerável tio-avô para todo os outros oceanos, que só surgiram há 200 milhões de anos com a divisão da Pangeia.

Tudo no Pacífico é superlativo. É de longe o maior, o mais profundo e até alegadamente o mais molhado dos oceanos, já que ocupa sozinho mais da metade da água livre existente no planeta. E provavelmente o mais perigoso também, já que é cercado por um extenso perímetro de fendas tectônicas e vulcões submersos conhecido como Círculo de Fogo, que vez por outra expressa seu mau humor com tsunamis devastadores. Se o navegador português Fernão de Magalhães soubesse disso, provavelmente iria repensar o nome com que tão generosamente batizou esse oceano em 1519 (e onde iria morrer poucos meses depois, graças a uma flecha disparada por um selvagem filipino).

Devido à sua idade geológica e vasto território salpicado com 25 mil ilhas e ecossistemas diversos, o Pacífico é incontestavelmente o epicentro de toda a vida marinha. Ou, nas palavras do ictiologista Carl Hubbs, a “fauna mãe de todos os peixes do mundo”. Se essa afirmação carrega ou não um certo grau de exagero é o que veremos a seguir.

 

2) Pacífico Norte
Importância para o aquarismo: 8,5

A região transitória do Indo-Pacífico é um confuso emaranhado de penínsulas e ilhas tropicais, propenso a ciclones, maremotos... e piratas armados com Ak-47! Um pesadelo para a navegação. Mas sob as ondas é um verdadeiro oásis de recifes de corais (mais de 500 espécies) e uma profusão psicodélica de peixes, em variedades e cores de dar inveja ao Caribe e ao Mar Vermelho.

O epicentro biológico dessa região é o chamado “Triângulo de Coral”, uma área de 6 milhões de km2 que no hemisfério norte engloba o arquipélago das Filipinas. Essas ilhas eram bem conhecidas como paraísos tropicais e grandes exportadoras para o mercado internacional de peixes ornamentais. Mas hoje sofrem com a degradação dos recifes e extensos cemitérios de corais, bem pelo uso predatório de cianeto de sódio para capturar os coitados dos peixes.

Avançando por milhares de quilômetros mar adentro, chegamos ao Havaí, cravado no coração do Pacífico (ou no meio do nada, como preferir). Paraíso do surf e dos turistas americanos fanfarrões, esse arquipélago também é  valorizado entre os aquaristas, já que muitos dos peixes mais queridos são encontrados ali: o Yellow Tang, o Picasso Trigger (eleito tesouro nacional em 1985), o exclusivíssimo Kole Tang e tantos outros.

Na costa americana, o destaque fica para o ecossistema subtropical da Califórnia e suas florestas de kelps (algas gigantes que se estendem verticalmente por vários metros), criando um ambiente esmeralda único em águas marinhas. As kelps são povoadas por peixes como o Garibaldi (um donzelão laranja que é o peixe símbolo do estado), o budião da Califórnia e o fofolete Catalina goby.

Bem mais ao norte, a meio caminho do Ártico, o Pacífico se fecha no Mar de Behring entre a Ásia e a América. É uma bacia muito profunda e piscosa, onde frotas de navios pesqueiros disputam 419 espécies de peixes, dentre salmões, bacalhaus e linguados. Mas a estrela local é mesmo o “king crab”, mais conhecido como caranguejo do Alasca e cuja pesca é considerada uma das profissões mais perigosas do mundo.

Cardinal Bangai (Pterapogon kauderni): de um remoto arquipélago na Indonésia para os aquários de todo o mundo. Foto por Ret Talbot.

 

2) Pacífico Sul
Importância para o aquarismo: 9,5

Enfim, o grande campeão do Troféu Netuno de biodiversidade marinha! Embora o Pacífico Norte seja um páreo duro, o Pacífico Sul ganha por 2 principais vantagens competitivas: a Grande Barreira de Recifes na Austrália e pelo menos 2/3 do já mencionado Triângulo de Coral.

A Barreira de Corais ocupa a costa oeste da Austrália e é considerada uma das maravilhas do mundo. São mais de 2000 km de coral (pelo menos 360 espécies de corais duros), 5 mil espécies de esponjas, 600 de equinodermos, todas as 7 espécies de tartarugas marinhas e mais de 1.500 espécies de peixes, onde o garoto-propaganda máximo é o indefectível peixe palhaço Ocellaris. Um paraíso para qualquer aquanerd. Mas lembre-se, a morte está sempre à espreita nas águas australianas, seja na forma de um tubarão branco, de um crocodilo gigante, de uma serpente marinha, de uma caravela, do polvo de anéis azuis, ou de um pisão num peixe pedra (cujos espinhos, dizem, proporcionam a pior dor do mundo!)

Já o Triângulo de Coral envolve, no hemisfério sul, a maior parte da Indonésia, Timor Leste, Nova Guiné e as Ilhas Salomão. Essa região é chamada de “Amazônia Submersa” e reúne 76% das espécies de coral conhecidas e 2000 espécies de peixes, mais do que qualquer outro lugar do planeta. O endemismo é grande e há uma boa chance de qualquer ilhazinha minúscula abrigar uma espécie única de peixe borboleta.

Para além desses 2 focos de vida marinha, há muitas ilhas dispersas pelo Pacífico Sul (Samoa, Tonga, Cook, Marquesas, etc), que vão se tornando cada vez mais raras à medida que avançamos para a costa oeste da América. Dentre elas, é inevitável falar um pouquinho sobre as Galápagos, palco dos estudos de Darwin sobre as origens das espécies. Para além das tartarugas gigantes, fragatas e iguanas marinhas, há alguns peixes belíssimos como o Wrasse de Cortez, o Peixe Borboleta de Nariz Preto e o King Angel.

O esplendor do Indo-Pacífico já ficou muito para trás, mas a costa oeste da América do Sul ainda é mais rica do que a sua contrapartida atlântica. A essa altura, você já entendeu o padrão. O Pacífico é o maioral. Fim da história.

Peppermint angelfish (Centropyge boyley): O cálice sagrado do aquarismo. Foto por Christopher Kriens

 

Conclusão

É, no fim, não houve muita surpresa. Essa volta ao mundo aquarística serviu só como exercício retórico para reafirmar o que provavelmente já sabíamos de antemão. Mas foi divertido, não foi? Quero dizer, se você chegou até aqui é porque deve gostar do assunto. Talvez tenha até aprendido uma coisinha ou outra e discordado de outras tantas. Tudo bem. A Harley Davidson não trabalha com aquários, mas ela tem um ótimo slogan: o importante é curtir a viagem!

Por Bruno Fortini

 

Referências

Artigos

FLOETER, S.R; ROCHA, L.A.; ROBERTSON, D.R.; JOYEUX, J.C; SMITH-VANIZ W.F., WIRTZ, P. et al. Atlantic Reef Fish Biogeography and Evolution. 2007.

GILBERT, Carter R. Characteristics of the Western Atlantic Reef-fish Fauna. In: Florida Academic of Sciences. 1972.

KEESING, J; IRVINE, T. Coastal biodiversity in the Indian Ocean: The known, the unknown and the unknowable. Strategic Research Fund for the Marine Environment (SRFME): Australia. 2004.

PARRAVICINI, V.; KULBICKI, M.; BELWOOD, B.R. ; FRIEDLANDER, A.M. ; ARIAS-GONZALEZ, J.E.; CHABANET, P. et al. Global patterns and predictors of tropical reef fish richness. Inst. de Recherche pour le Développement, 2013.

PINHEIRO, H.T.; ROCHA, L.A; MACIEIRA, R.M; CARVALHO, A.F.; ANDERSON, A.B.; BENDER, M. G. et al. South-western Atlantic reef fishes: Zoogeographical patterns and ecological drivers reveal a secondary biodiversity centre in the Atlantic Ocean. 2018.

Livros

BINI, Etson. Peixes do Mar - Espécies do Mar. Homem Pássaro Publicacões: Florianópolis, 2014.

KNOWLTON, Nancy. Citizens of the Sea - Wondrous Creatures from the Census os Marine Life. National Geographic: Washington DC, 2010.

Sites

Arctic Ocean Diversity

Fishbase

Saltwatersmarts

Marine Insight

 

SHARE IT:

Commenting area

  1. Flávia Lima 10/10/2019 at 2:24 pm · · Responder

    Que artigo sensacional! Realmente adorei! Parabéns pela riqueza de informações e pelo texto, ainda assim, leve e divertido!

  2. ANA BEATRIZ APOCALYPSE VIEIRA 10/10/2019 at 2:47 pm · · Responder

    Bruno amei a sua explicação e gostaria de deixar um comentário, mas deixando claro não sou especialista, posso até soar estúpida, mas penso que tudo e um equilíbrio, não importa a quantidade de um ou outro oceano, mas sim que eles se completam como um círculo de equilíbrio. Imagina a natureza sem a chuva? Como os rios subterrâneos alimentariam as árvores q alimentam os bichos e até às nuvens q fazem chover de novo? Todos precisam de equilíbrio, até nós mesmos.. Obrigada pelo artigo.

Leave a Reply

You can use these tags: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>